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The Michael Lauren Trio: Live At Mobydick Records (Why Not Music, 2022)

 

BY: TOMAJAZZ

18 Apr 2022

A nova produção do pedagogo nova-iorquino Michael Lauren, chega até nós com uma diferença estrutural quanto ao formato do grupo, que nesta ocasião é formado por um trio, formado pelo guitarrista Vasco Agostinho e João Custódio no contrabaixo. Em algumas das suas últimas produções, anteriores a esta (The Michael Lauren All Stars: Once Upon A Time In Portugal, 2015; e The Michael Lauren All Stars – Old School / Fresh Jazz, 2018), temos escutado o baterista em formações mais amplas, acompanhado por relevantes figuras do panorama jazzístico português. O trabalho em trio exige uma planificação distinta e não isenta das dificuldades próprias que se desencadeam em qualquer tipo de gravação, desta vez realizada como um concerto em directo, em Braga, em 2021, nos estúdios da editora discográfica Mobydick Records, propriedade dos irmãos Nico e Buda Guedes.


O álbum contém sete composições de estilos variados, que apontam para a diversidade musical a que Lauren nos habituou, o que faz com que escutá-lo se converta num exercício muito activo na sua totalidade.


“Biji” é o primeiro tema que lidera o disco. Uma composição do saxofonista Sonny Rollins, adaptada pelo trio, com arranjos de Lauren e Agostinho. A alegre e animada partitura dá espaço para que os três músicos possam fazer curtas improvisações na estrutura harmónica, destacandose o papel do guitarrista com o seu solo mais extenso, limpo e fluido, bem acompanhado pela omnipresença da bateria de Lauren e as acertadas linhas de contrabaixo de Custódio, criando um poderoso e perceptível groove, com uma boa e profunda sonoridade.  Em "Ritual Do Cabrito", apreciamos uma viragem estilística em direcção ao jazz rock, marcada pelo contrabaixo de Custódio, a forte bateria de Lauren, e o som algo distorcido da guitarra de Agostinho, que mais uma vez se destaca com um protagonismo partilhado com o contrabaixo e a bateria. A audição continua com uma introdução de bateria que dá lugar à exposição melódica do "Bonfim Blues" (Once Upon A Time In Portugal, 2015), um blues relaxado e eloquente, uma versão feita pelo trio, com solos bem definidos pelos três membros. Os ritmos do jazz funk também estão presentes neste álbum com o tema intitulado “Sempre Em Frente”, iniciado com o pulso da bateria e do contrabaixo, ao que se soma a guitarra distorcida numa exposição repetida da melodia, intensificada seguidamente com um solo muito expressivo. A introdução do contrabaixo de Custódio dá início à mais longa peça do álbum "Looking Back At Life", uma balada lenta e emotiva, cheia de nuances e cores sónicas, desenvolvida em grande parte pelo contrabaixo e guitarra eléctrica, apoiados pela meticulosa e subtil bateria de Lauren. Os compassos ternários (3/4) juntam-se em "Fresco", numa alegre cadência musical na qual Agostinho nos deleita com o seu bom manejo instrumental e uma excelente linguagem jazzística no seu discurso. Chegamos à última composição do álbum com "A Bridge Remembered", baseada num ritmo rápido, sobre o qual caminha a sugestiva e enérgica guitarra, deixando espaço para um magistral e decisivo solo de bateria da Lauren.

Há-que ressaltar também o êxito da dimensão sonora que engloba todo o álbum. Fiel aos seus princípios ecléticos, mas também à sua versatilidade como baterista, Michael Lauren oferece-nos a mostra criativa de uma música que se move para além do convencional. Uma música íntegra, feita com atitude, de acordo com a sua própria reflexão.


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